Instituto Fayga Ostrower

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Herdeiros Fayga Ostrower

Mestra e Artista paixão

Texto escrito por Uiara Bartira, homenagem aos 90 anos de nascimento de Fayga Ostrower

"Arte não se ensina. É impossível ensinar; na Escola de Belas Artes aprendemos a aprender. Se vamos ser artistas, a vida vai dizer. Poucos se tornam artistas. Ao sair da escola, ele ainda não é... ainda tem de crescer, tem de enfrentar a vida e a sua falta de atalhos. A pessoa não pode atalhar: tem que amar, que sofrer, tem que lutar, educar a sensibilidade; museus, concertos, teatro. A TV em si é um meio fantástico, cheio de possibilidades".

Reflexão sobre esse depoimento de Fayga Ostrower para o livro Gravura Brasileira Hoje: Quando ela diz "aprendemos a aprender" sabe-se de antemão que esse pensamento resume todo o conteúdo abstrato de sua obra. "A arte pela arte". A introspecção, a verticalização, o mergulho e a configuração da anti ou a Outra imagem. Antecede-se assim à Semiologia a ser trabalhada posteriormente na obra de outra artista, a gravadora Anna Letycia.

A relação com a escola é feita a partir da própria idéia da Matriz da Gravura em metal. Delimita-se nesse espaço à construção da imagem na mesma temporalidade da busca do conhecimento associado ao conhecimento do Outro e este ao auto-conhecimento, isto é, do espectador ou fruidor da obra de arte.

Somente após esse período é que o "artista" se estabelece. A triagem é então feita e é sobre a construção de seu pensamento e de sua trajetória que a concretude passa a ser configurada no resultado de seu trabalho.

A gravura de Fayga vai mais além; percorre os caminhos da gráfica contemporânea, das luzes e sombras do teatro e a arte-educação, da cosmologia da música e chega à imagem eletrônica.

Há de se dizer que a Arte Concreta em São Paulo se dá pela Literatura e pela Gravura, diferentemente do Rio de Janeiro, onde ela acontece pela Arquitetura e pela Música do espaço abstrato.

"O meu caminho me levou diretamente para a arte abstrata" – Os cubistas pararam no momento em que fragmentaram todos os objetos e chegaram a uma nova estrutura de espaço; recuaram então. Edith Behring; depoimento do mesmo livro / Gravura Brasileira Hoje, e é quem prepara o caminho para a maior artista abstrata do Brasil, sem dúvidas – Fayga Ostrower. Confirma esse pensamento, Guimarães Rosa quando diz: "Mestre não é só quem ensina, mas quem de repente aprende".

Uiara Batira vive e trabalha em Curitiba/PR. Bacharel em pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Responsável pela formação de uma geração de professores de gravura, pela implantação das oficinas da Casa da Gravura em 1980 e do Museu da Gravura Cidade de Curitiba em 1989/93, período em que formaliza sua tese de Mestrado: "A Evolução da Estética da Gravura Brasileira" sob orientação da artista plástica Maria Bonomi. Membro do Conselho de Arte da 21ª Bienal Internacional de São Paulo /1990. Foi curadora geral das IX e X Mostras da Gravura Cidade de Curitiba -1990/92 e do Brasil / Reflexão 97 – A Arte Contemporânea da Gravura, como tese de Doutorado sob a orientação do crítico de arte Paulo Herkenhoff.